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Pedregulho

Local: Bairro de São Cristóvão, Rio de Janeiro

Ano: 1947

Arquiteto: Affonso Eduardo Reidy

Tipo de projeto: Residencial

 

Figura 1 - Localização

Movimento internacional multifacetado, o Modernismo apresentou alguns princípios que foram seguidos por vários arquitetos das mais variadas escolas. Podemos citar, entre eles, a rejeição do repertório formal do passado e o não uso de ornamentos.

Até 1930, a Arquitetura Moderna não tinha adeptos no Rio de Janeiro e a Escola de Belas Artes, dirigida por José Mariano Filho, estava dominada pelo modismo do neocolonial. Neste ano, quando Lúcio Costa assume a direção da Escola de Belas Artes, há uma tentativa de reforma do currículo, mesclando o ensino clássico com as teorias modernas. O novo currículo não foi aceito pelos catedráticos da Escola, e Lucio Costa perdeu o cargo.

Mas os anos de 1931 a 1935 foram importantes para o desenvolvimento da Arquitetura Moderna no Rio, a obra de Le Corbusier tornara-se uma espécie de “Livro Sagrado da Arquitetura” e os jovens arquitetos formados na Escola de Belas Artes dedicavam-se ao estudo do Movimento Racionalista Europeu.

Affonso Eduardo Reidy (1909-1964), ex-assistente de Warchavchik na Escola de Belas Artes, bastante fiel ao espírito de Le Corbusier, arquiteto da prefeitura do Rio de Janeiro, projetou, desde cedo, grandes edifícios para abrigar os serviços municipais. Seus projetos tinham uma preocupação intensa com o conforto ambiental. Segundo Bruand (1997), sua arquitetura era rigorosamente funcional, mas plasticamente inexpressiva.

Localizado no bairro de São Cristóvão, Rio de Janeiro, o Conjunto Residencial de Pedregulho é uma síntese do trabalho deste arquiteto, onde se fundem suas preocupações funcionais, a adoção dos princípios e da estética de Le Corbusier já com as influências do trabalho de Niemeyer e Lúcio Costa.

No projeto de Pedregulho há uma nítida articulação dos volumes em blocos diferenciados e hierarquizados. Cada obra é definida por um volume simples, num conjunto visivelmente dividido em grandes categorias, onde o aspecto formal se diferencia de acordo com a função de cada elemento.

Figura 2 - Unidade Residencial de Pedregulho -Plano do conjunto previsto

Reidy deu uma importância particular às construções destinadas a abrigar os serviços comuns, já que eram estas que tornavam o Pedregulho um empreendimento diferente de outros programas de alojamento coletivo. Para que essas construções se destacassem da massa dos blocos de apartamento, o arquiteto acentuou seu aspecto plástico.

A escola e suas dependências são os elementos centrais do projeto. Para Reidy, a escola era símbolo de progresso e garantia de que as crianças do conjunto iriam receber educação. Devido a seu valor simbólico é que essa construção recebeu uma riqueza plástica e decorativa que se destaca da dos demais.

Figura 3 - Escola e Ginásio

Figura 4 - Vista dos edifícios da Escola e do Ginásio

Figura 5 - Escola - Fachada Sul

Figura 6 - Vista dos Edifícios do Ginásio e da Escola

 

A escola é constituída de um prisma trapezoidal simples, sobre pilotis, o que permite um pátio livre coberto no térreo.

Figura 7 - Volume trapezoidal da Escola

Todas as salas de aula são orientadas para sul, o lado de menor insolação, e cada uma tem um terraço particular, que é a continuação natural das mesmas devido ao volume. Os panos de vidro e as portas e janelas não impedem o contato com o exterior, mas garantem a intimidade necessária (devido ao recuo). A fachada inclinada também assegura iluminação natural às salas. O corredor, fechado por uma grade de cerâmica, é protegido do excesso de insolação, sem bloquear a ventilação.

Figura 8 - Escola - Fachada Sul

Figura 9 - Vista do Corredor 

Figura 10 - Grade de cerâmica do corredor

O ginásio está ligado à escola, formando uma só composição. Ambos se fundem pelo jogo de marquises e rampas que são um acesso comum às duas edificações. No plano estético, essa fusão é feita por um equilíbrio baseado numa série de oposições: os arcos tensos e o aspecto fechado do ginásio são contrapostos pelas linhas retas e pela transparência da escola. O “peso” do ginásio é compensado por sua cobertura de estrutura fina. O painel de azulejaria de Portinari contrasta com a parede vazada do corredor, enquanto a parede de tijolos do lado menor da escola contrabalanceia a austeridade das grandes fachadas do ginásio.

Figura 11 - Maquete volumétrica do conjunto Escola-Ginásio

Figura 12 - Escola e Ginásio de Pedregulho

Bloco de apartamento 

O projeto compreende quatro blocos de habitação. O bloco "A", com 260 m de extensão, contendo 272 apartamentos de diferentes tipos. Os blocos "B1" e "B2", com cerca de 80 metros de extensão, com duas ordens de apartamentos duplex, contém 56 unidades de dois, três e quatro dormitórios. O bloco "C", não construído, constitui-se de 12 pavimentos com apartamentos de dois, três e quatro dormitórios e elevador.

Figura 13 - Bloco de apartamento A

O bloco de apartamento A se destaca pela original solução de planta serpenteada, que acompanha as condições naturais do terreno , vivamente integrado à paisagem montanhosa do Rio de Janeiro. Duas pontes dão acesso a um pavimento ocupado parcialmente pelas instalações do serviço social e da administração. A cada 50 metros aproximadamente, acham-se localizadas as escadas coletivas de acesso aos diversos pavimentos. Os dois pavimentos inferiores contêm apartamentos de uma só peça e os superiores duas ordens de apartamentos duplex de um a quatro dormitórios. A solução duplex foi adotada por ser aquela que oferecia maior rendimento, pela possibilidade de atingir sem elevador os quatro pavimentos (sendo o acesso ao último pavimento feito já do interior do apartamento); e permitir, mediante maior profundidade do bloco, o mínimo de testada, aumentando dessa forma o número de unidades do bloco. 

O projeto possui controle da luz e da ventilação, facilidade de circulação. A intenção de manter a vista da baía de Guanabara para todos os apartamentos leva Reidy a projetar uma grande construção sobre pilotis, que dribla o declive natural da área pelo uso de passarelas, e uma avenida posterior no topo do terreno, recursos que dispensam elevadores. Os pilotis de alturas variáveis constituem outra solução original empregada em função dos desníveis do solo. 

Figura 14 - Planta bloco de apartamento A
Figura 14 - Região montanhosa
Figura 15 - Ponte de acesso
Figura 16 - Corte e fachada
Ponte
Cobogó
Brise
Pátio
Pilotis
Figura 17 - Planta baixa apartamentos

A solução é simples: duas fileiras de pilares - afastadas 1,5 m das fachadas - acompanham o bloco lâmina serpenteante e sustentam uma laje em balanço, como se vê no corte transversal. A solução estrutural permitiu a utilização, sem interrupção, dos cobogós na parte posterior do bloco. E, ainda, a permeabilidade visual no piso intermediário, por onde se dá o acesso ao bloco, interrompida apenas em uma área destinada ao serviço social e ao comércio local, cujo fechamento de madeira pintada de vermelho mereceu um dos mais belos desenhos elaborados por Reidy. 

Figura 17 - Fachada frontal
Figura 18 - Fachada posterior
Figura 19 - Corredor de acesso aos apartamentos

A fachada frontal é composta por painéis de madeira que se dividem em peitoril, janela e bandeira, formando um movimento onde os painéis deslizam como guilhotinas, proporcionando um efeito de opacidade e transparência. Além disso os painéis proporcionam ora o controle de iluminação ora de ventilação no interior dos apartamentos. O vazio ou grande patio do pavimento intermediário reforça a predominância da horizontalidade na composição da fachada. A vista da fachada posterior, por onde passam os corredores de acesso aos apartamentos, é composta pelo uso de cobogós de cerâmica, onde a permeabilidade do piso intermediário tem a inteção de melhorar a ventilação e iluminação dessa circulação; sua continuidade é interrompida por brises verticais. 

Nos demais blocos não há a monumentação proporcionada pelos paineis, mas sim o uso de janelas horizontal, formando uma faixa de iluminação e ventilação e tambem compõe a fachada. Os mesmos principios de conforto ambiental é utilizada para os blocos B1 e B2.

Figura 20 - Bloco de apartamento B1 e B2
Cobogó
Cobogó
Escada

Posto de Saúde

Brise
Marquise
Laje inclinada
Pliar em aço
Figura 21 - Posto de saúde

Trata-se de um edifício com uma volumetria menos recortada, mais próximo de um quadrado, onde uma de suas fachadas laterais não possui aberturas. A outra conta com pequenas aberturas e uma porta, marcado por uma marquise com laje inclinada sobre pilares também inclinados em tubos de aço. Na fachada frontal apresenta dois planos. O primeiro construídos por brises verticais em madeira, já o segundo há um vazio cujos fundos encontra-se um painel de azulejos decorados por Anísio Medeiros. 

Mercado a lavanderia

Brise
Figura 22 - Mercado e Lavanderia

Em uma única estrutura Reidy instalou o mercado e a lavanderia. No entanto possuem acessos independentes. A fachada de acesso do mercado possui uma forma simples contendo dois planos, sendo que o de maior evidência é constituído por painéis compostos por brises horizontais. Já a fachada destinada a lavanderia, possui maior liberdade quanto a forma, devido a presença de um cilindro com um plano não paralelo e recuado do alinhamento da fachada do mercado. 

D

Desenvolvido por: ALINE SPADETTO, THAIANE VERLY E THAIS ELLEN

Como trabalho avaliativo da disciplina: ARQUITETURA NO BRASIL

PROFESSORA: TATIANA CANIÇALI CASADO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO - UFES

Junho - 2016

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