
A Reforma Urbana de Pereira Passos
A cidade do Rio de Janeiro nasceu e se desenvolveu espremida entre o mar e as montanhas, o que constituía um obstáculo a um desenvolvimento de uma malha urbana racionalizada.
Mas não devemos nos apegar muito às aparências. Apesar da geografia se mostrar, numa primeira instância, bastante negativa – devido aos morros, muito abruptos – esta forçou a aglomeração a ocorrer ao longo da baía. A cidade linear que a partir daí se desenvolve, apesar da inconveniência das grandes distâncias, apresentou-se mais fácil de organizar.
As colinas onde se instalaram os portugueses, quando fundaram a cidade, erigiam-se em meio a mangues que, depois de drenados, forneceram uma grande extensão plana. Essas montanhas ainda foram arrasadas no momento em que essa alternativa se tornou possível e eficaz. Aliado a isto, o aterro da faixa costeira permitiu criar uma zona desimpedida que facilitou a tarefa das autoridades.
Além disso, por ser a capital do país, o Prefeito tinha poderes consideráveis e crédito com o chefe de Estado, que volta e meia achava conveniente apoiar um programa de envergadura na cidade. As transformações no Rio de Janeiro neste período estão intimamente ligadas a um trabalho conjunto entre políticos e urbanistas.
Francisco Pereira Passos (1902-1906) entra nesse cenário desempenhando seu papel, ao mesmo tempo político e urbanista. Prefeito durante a presidência de Rodrigues Alves, gozou de constante ajuda tanto do Presidente quanto do então Ministro de Transportes, Lauro Müller. Durante sua gestão, o Rio era uma cidade de aproximadamente 500.000 habitantes, concentrada em torno de um núcleo primitivo, com suas ruas estreitas pavimentadas com pedras redondas e sem calçadas, rodeadas por casas de no máximo dois andares. A cidade conservava ainda muito de seu aspecto colonial, embora tivesse aumentado sua extensão. Os transportes eram feitos principalmente com tração animal, e ainda podia-se criar ruas sem aprovação alguma da prefeitura.
Para colocar ordem na casa e modernizar a capital, Pereira Passos tomou algumas medidas. Exigiu que toda via aberta fosse devidamente pavimentada e provida de canalizações de água, gás e esgoto. Sua ação mais incisiva, porém, foi sobre a malha urbana: abriu grandes artérias monumentais que facilitaram as comunicações e romperam com o esquema emaranhado do plano precedente. Duas importantes avenidas, dispostas em diagonal, em “V” – a Avenida Central (hoje, Rio Branco) e a Avenida Mem de Sá – foram abertas, cortando o xadrez das ruelas do centro. Para isso, não se hesitou em acabar com um pequeno morro que se encontrava no caminho. Nessa configuração, as duas extremidades do porto (recentemente reformado para absorver um tráfego que crescia) foram ligadas diretamente à Avenida Beira-Mar. Esta, ao desenvolver-se ao longo da baía, serviu de base para o desenvolvimento daquela que iria se tornar a zona mais elegante do Rio, a Zona Sul. Criou-se uma série de novas vias e outras já existentes foram alargadas para completar essa nova rede viária. Para coroar a nova malha, praças e jardins foram inseridos.
Pode-se observar a mudança radical no aspecto da cidade num curto espaço de tempo. A planta do centro assumiu os traços que ainda hoje o marcam. Nessa reestruturação é inegável a forte influência de Haussmann. Ambos prefeitos acabaram com a fama de destruidores sem escrúpulos – embora as maiores perdas do patrimônio do Rio não possam ser imputadas a Pereira Passos, sendo claramente fruto de períodos posteriores. Pereira Passos ainda reproduz o mesmo princípio francês das grandes artérias com árvores (os bulevares) arrasando sem hesitar tudo que estava no caminho, e terminando em monumentos – a perspectiva final. Até mesmo a largura da Avenida Central retoma as dimensões francesas (33 metros).
No tocante à arquitetura, foi feito, durante a gestão de Pereira Passos, um concurso internacional para a escolha das fachadas que iriam ladear a avenida principal. Mas o prefeito e seu auxiliar, o arquiteto Paulo de Frontin, não atentaram para o fato de que, para assegurar uma unidade perfeita, o que era seu objetivo, a totalidade da concepção deveria ser confiada a apenas um arquiteto. Assim, foram recebidas várias propostas, mas que se referiam apenas a edifícios isolados. Todos os profissionais locais participaram da tarefa de projetar para a rua nobre da cidade. O resultado foi uma série de edifícios maneiristas inspirados nos estilos históricos mais variados, muitas vezes misturados num mesmo edifício. Um fracasso total em matéria de urbanismo.
Mas isso não desmerece os feitos de Pereira Passos. Não foi um grande inovador, visto que muito de suas ações foram reproduções do prefeito francês, todavia, as transformações que ele impôs foram decisivas no Rio de Janeiro, e permitiram um novo começo para a cidade. Transformações estas que, devido a um crescimento intenso, logo se tornariam insuficientes.




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